sexta-feira, 7 de maio de 2010

BREVE REFLEXÃO

É certo que a sexualidade corresponde a algo profundamente subjetivo e sua expressão assume as tonalidades do caráter do sujeito que a vivencia. No entanto, seria uma tolice negar que ela também é condicionada por prescrições sociais e normatizações institucionais que configuram, em maior ou menor grau, suas possibilidades de expressão. Em outras palavras, a nossa sexualidade humanamente concebida possui múltiplas dimensões que podem servir de base para análise em qualquer área do conhecimento. Dessas dimensões, duas podem e devem ser destacadas, pois a maneira como elas se correlacionam define a nossa liberdade e realização ou opressão e sofrimento: a dimensão pessoal/individual/subjetiva e a dimensão social/política/institucional.

A nosso ver, no mundo contemporâneo há um predomínio evidente de uma concepção individualista nos modos de ver, falar e viver a sexualidade. Porém, trata-se de um individualismo alienante que busca não a saúde (felicidade) e libertação do sujeito mas a criação de um indivíduo consumidor/hedonista. Assim, o “ensimesmamento” e a “individualização” não significam autoconhecimento ou  evolução da consciência, mas sim dominação e esvaziamento do sujeito. Como diz o poeta Carlos Drummond de Andrade, nos tornamos “coisa coisamente”.

Aqui chegamos ao ponto onde queríamos: a dimensão política e social de nossa sexualidade e das formas de expressá-la. Da mesma forma que não amamos no vácuo também não fazemos sexo no vácuo. Nossas ações, sentimentos e emoções encontram-se num tempo/espaço determinado, isto é, ocorrem dentro de um contexto histórico e são moldadas de fora para dentro também. Desse modo, o esforço que fazemos para sermos felizes em nossas relações sexuais, amorosas e etc. jamais será bem sucedido se não levarmos em conta o caráter político que elas encerram.