quarta-feira, 25 de maio de 2011

NOTA
KIT GAY – PRESIDÊNCIA DO BRASIL – MOVIMENTO LGBTT

Nos irmanamos àquelas e aqueles que sentem-se traídos  e se indignam com os últimos acontecimentos envolvendo a presidência do Brasil e a luta por justiça social.

Não nos furtamos no passado e não nos furtaremos agora de expressar o nosso mais profundo repúdio a essa linha política adotada pela presidência da república e corroborada pelos partidos e instituições que lhe dão sustentação.
Mais uma máscara caiu! Agora, apenas os hipócritas e mal intencionados não são capazes – OU TEM A CORAGEM - de admitir a verdadeira natureza desse governo: DEMAGÓGICO, PERNICIOSO E CONSERVADOR. E nesse ínterim ele se iguala às esferas estaduais e municipais. Não é possível hoje distinguir entre o que propõe a burguesia reacionária e o que propõe o governo federal.
De acordo com nossos princípios políticos, um material de combate à discriminação e ao preconceito de gênero (homofóbico, lesbofóbico, transfóbico, etc.) deveria ser elaborado a partir e com a contribuição dos professores e de toda a comunidade escolar, não a partir de um grupo seleto que “pensou para...”. Ainda assim, tendo em vista a mobilização dos conservadores e os gastos públicos envolvidos na produção e confecção do chamado “kit-gay”, julgamos oportuno que a questão fosse discutida nas escolas e que estas se apropriassem da discussão que vai muito além da mera distribuição deste kit. Isto é, este material poderia se converter em uma real iniciativa de combate à estupidez, opressão e injustiças impingidas aos/às jovens nas escolas brasileiras.

Mais uma vez fica claro que o atrelamento ao governo não é benéfico à luta e ao movimento LGBTT; que a institucionalização (burocratização) excessiva é perniciosa.

Façamos de mais este ato vergonhoso do governo federal a matéria-prima para novas iniciativas de uma militância verdadeiramente combativa e livre. Que comecemos nós mesmos a produzir e multiplicar materiais diversos e trazer a discussão para dentro das escolas, dos locais de trabalho, dos sindicatos, dos locais onde nossa vida realmente acontece. Para além dos subterrâneos onde viceja uma infinidade de igrejas que parecem mais um “mercado negro de ações”, direcionemos os nossos passos para um mundo fora das cavernas, porões, calabouços e gabinetes.

Secretaria LGBTT / APEOESP – Subsede Sul / Sto. Amaro

RECAPITULANDO

Perguntas e Respostas

1. O que a luta dos trabalhadores tem a ver com os LGBTTs?

R.: Trabalhar é produzir não apenas coisas, quando trabalhamos mudamos o mundo e a nós mesmos. Isto é, ao trabalhar eu me faço, construo a minha subjetividade e terei uma subjetividade alienada, distorcida se menosprezar a sexualidade nesse processo. Portanto, a luta dos trabalhadores é também a luta pela livre expressão da sexualidade, contra a homofobia e contra a opressão de gênero.

2. Por que especificar e não fazer simplesmente uma luta contra as opressões?

R.: Porque quando nos comunicamos, queremos nos fazer entender e se formos sempre genéricos, não seremos entendidos totalmente. É necessário ser específico (além de genérico) se quisermos nos fazer entender. Além disso, generalizar, neste caso, é fugir à discussão; é não colocar no debate o que precisa ser colocado. Não podemos ter medo de dar nome às coisas.


3. Por que a Secretaria foi criada dentro da APEOESP-Subsede Sul/Sto Amaro?

R.: Porque a APEOESP, em especial na Subsede Sul de Santo Amaro, foi receptiva à proposta e não tem uma visão sectarista e limitada da luta dos trabalhadores. Além disso, a idéia nasceu de um grupo de professores conscientes que já estão engajados nessa luta.


UMA BREVE REFLEXÃO

É certo que a sexualidade corresponde a algo profundamente subjetivo e sua expressão assume as tonalidades do caráter do sujeito que a vivencia. No entanto, seria uma tolice negar que ela também é condicionada por prescrições sociais e normatizações institucionais que configuram, em maior ou menor grau, suas possibilidades de expressão. Em outras palavras, a nossa sexualidade humanamente concebida possui múltiplas dimensões que podem servir de base para análise em qualquer área do conhecimento. Dessas dimensões, duas podem e devem ser destacadas, pois a maneira como elas se correlacionam define a nossa liberdade e realização ou opressão e sofrimento: a dimensão pessoal/individual/subjetiva e a dimensão social/política/institucional.

A nosso ver, no mundo contemporâneo há um predomínio evidente de uma concepção individualista nos modos de ver, falar e viver a sexualidade. Porém, trata-se de um individualismo alienante que busca não a saúde (felicidade) e libertação do sujeito mas a criação de um indivíduo consumidor/hedonista. Assim, o “ensimesmamento” e a “individualização” não significam autoconhecimento ou  evolução da consciência, mas sim dominação e esvaziamento do sujeito. Como diz o poeta Carlos Drummond de Andrade, nos tornamos “coisa coisamente”.

Aqui chegamos ao ponto onde queríamos: a dimensão política e social de nossa sexualidade e das formas de expressá-la. Da mesma forma que não amamos no vácuo também não fazemos sexo no vácuo. Nossas ações, sentimentos e emoções encontram-se num tempo/espaço determinado, isto é, ocorrem dentro de um contexto histórico e são moldadas de dentro para fora também. Desse modo, o esforço que fazemos para sermos felizes em nossas relações sexuais, amorosas e etc. jamais será bem sucedido se não levarmos em conta o caráter político que elas encerram.