quarta-feira, 28 de julho de 2010

Façamos nossas as palavras da colega....


Camily, Camily...

Ainda estávamos nos acostumando com seu novo nome, quando a vida nos prega esta peça... Sim, porque todo mundo a conhecia simplesmente como Cotonete, lembra? De quando você começou a se montar, magriiinha, parecia um cotonete mesmo (rsrs). Mas o sorrisão já te deixava linda como Cotonete, e mais ainda quando você se descobriu travesti e adotou Camily.

Bicha, acho que você era a única travesti de Campinas que era unanimidade. TODO MUNDO gostava de você. E tinha como não gostar de uma pessoa tão boa, que não fazia mal a um mosquito..?

Estou indignada e muito puta com o que aconteceu. E mais puta ainda com as injustiças que você sofreu mesmo depois de atacada. Injustiça dos policias que liberaram o assassino, mesmo ele tendo sido pego em flagrante tentando jogar você, desacordada, numa valeta.

Injustiça daquele projeto de jornal que escreveu uma matéria absurda sobre você, te chamando de “homem” o tempo todo e não questionando a versão mentirosa do assassino.

Injustiça dessa sociedade homofóbica que te empurrou para a marginalidade como faz diariamente com tantos meninos e meninas trans e depois os criticam quando são mortos, como borboletas, em situações de extrema vulnerabilidade e degradação. Você foi a 38ª trans assassinada este ano no Brasil. A 112ª LGBT. A 9ª LGBT assassinada este ano no Estado de São Paulo, que ocupa a 3ª colocação em números de mortes (só perde para a Bahia e pro Rio de Janeiro).

E o pior, Camily, é ficar aqui, com este sentimento de que não podemos fazer nada.

Ainda bem que podemos, sim. Podemos resgatar um pouco da justiça que você não teve. É o mínimo que acho digno. Eu como militante, drag queen e presidente de uma instituição, prometo que vou atrás disso com nossos colegas militantes e não vou sossegar até esse criminoso estar atrás das grades.

E não vou sossegar até que aquela área degrada do entorno da velha rodoviária seja revitalizada, para que a violência não nos ameace a todos que circulam na região. Como você, naquela noite fatídica.

Pode deixar que vamos olhar pela sua mãe. E o que a sua família precisar, estarei aqui.

Adeus, minha amiga Camily. Descanse em paz porque aqui nós vamos lutar para que esse crime não fique impune.

Lohren Beuty

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